No tempo em que for pássaro
No tempo em que for pássaro 
21 gramas 
dizem que é o peso da alma 
voarei para mais alto, devagar 
como é próprio dos que viveram madrugadas de saudade 
nas esquinas do ontem com o hoje 
do hoje com o amanhã 
do amanhã com o sempre 
até encontrar uma nuvem
nela me abrigar, assim 
sem mais nada para me soprar a brisa do norte, ou do sul 
também não do oeste nem do leste, lá onde nascem os
amanhãs. 
Apenas água e o que for de mim, serei também lágrima. 
Então gota, esta e aquela e a outra além 
chuva e cristal de gelo 
mas já rio 
serei lago e cisne mas não mar ainda 
onda e maré 
serei espuma e gaivota 
logo oceano, um, dois, três, atlântico, índico e pacífico
a gotícula iluminada pelo sol de inverno 
aqui perto e além longe, em todo o lado 
serei o elemento efémero e circular de uma esperança
renovada 
no azul do céu dos dias em que o Sol é amarelo 
os campos já verdes. 
alguns olharão mais tarde a lua, em busca de sinais de
mim, 
estarei então naquela estrela do lado de lá de tudo
a brincar às escondidas, 
os meus netos talvez soltem uma gargalhada e digam 
nem ali, nem além ele tem juízo, 
vá lá que não levou a boina basca 
bem capaz disso era ele 
mas ficaria ridículo 
ficaria ridículo na apresentação de credenciais
numa selfie com o São Pedro.



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