DOMINGUICES

Domingo !

Há uns tantos que ficam com enxaquecas ( os que sofrem dessas malfadadas e têm o síndroma do fim-de-semana ) pois a mudança do ritmo semanal para a (in)agitação dominical dá cabo deles, lá têm de passar o Dia do Senhor às escuras, sem ouvir o mínimo ruído, rodeados de Nada, enjoados até chegarem ao vómito, um martelo pneumático a partir-lhes a cabeça. Não é pera doce, garanto-vos, mas no meu caso nunca tive enxaquecas por essa razão...felizmente !

Para outros trata-se de recuperar da agitação do "saturday night fever" e sequelas colaterais, de modo que tudo o que seja abrir um olho antes das cinco da tarde é um enorme disparate e sacrifício, Domingo curtinho e que passa tão rápidamente quanto mais depressa passar a ressaca.

Um largo número de cidadãos urbanos ou periféricos lá leva as respectivas famílias para uma passeata à grande superfície comercial mais próxima ( às vezes até é engraçado ir a outra, sempre se ficam a conhecer coisas novas ) que possibilita também comprar umas coisitas e nalguns casos encher três carrinhos de compras, indispensáveis umas, úteis outras, perfeitamente disparatadas muitas.

Uns milhares juntam os familiares ( sogros, pais, netos, avós, tanto faz ) para ficarem uma horita à espera de mesa naquele restaurante onde o cozido é bom, primando sobretudo pela abundância das cenouras, dos nabos, do feijão, das orelhas e respectivos pés. Após um tintol para o áspero, lá virá um leite creme queimado na hora em que foi feito (três dias?), uma bica e quatro bagaços para ajudar à segurança rodoviária. Belo Domingo, é pena não ser sempre assim !

O prazer da família, mesmo se entretanto fôr preciso pôr a mulher na ordem, dar uns tabefes ao netinho idiota, mandar o sogro àquela parte e olhar para a sogra com a meiguice de quem vê Satanás. Para amenizar o regresso, há sempre o relato de futebol austero do Fernando Correia, cabendo ao ouvinte imaginar a beleza do Jorge Costa a dar uma sarrafada ao Nuno Gomes ou do Petit a fazer festinhas ao Sá Pinto...e viva Portugal, lá demos 6 secos ao Luxemburgo, essa potência do futebol europeu.

No Verão os lisboetas enchem as praias da Costa e arriscam-se a passar uma horitas nas "bichas". Às sete da manhã já estão pessoas a chegar de carro à praia, muitas vezes com os putos atrás a dormir, pudera, levantaram-se às cinco para não levar uma estalada bem dada por não estarem a ajudar nada no sucesso da jornada. Há que escolher bem as horas de ida/vinda, o que no limite resulta em não ir para não ter de vir, opção que alguns escolhem, em desespero de mar, sol, carreirinhas nas ondas e outras benesses que a praia oferece.

Para quem (já) não tem ressacas, adora cozido mas outro dia da semana e num certo restaurante discreto em Lisboa, odeia compras em grandes superfícies quando estão mais de 100 pessoas, gosta até mais não poder da família mas sempre detestou os "passeios dos tristes", fica nervoso quando ouve uma passagem de um relato de futebol, às vezes a cair do 4º andar para a rua onde nos cruzamos com uma figura bonita que passa ( mulher, cão, que mais ?), considera praias óptimas as portuguesas mas no recato dos seus trinta usuais frequentadores, para esses, que fazer ?...

...para além de comprar o jornal e tomar um bom café numa esplanada agradável a gozar a frescura matinal, dar um passeio a pé a ver mais uma vez o que há de bonito lá no bairro, gozar o prazer de preparar um almoço leve que dê pouco trabalho ou ir comer uma sandocha ao miradouro de Santa Catarina, por exemplo, ler um bom livro, ouvir um bocadinho de música de que se goste, seja ela qual fôr, eventualmente adormecer devagarinho enquanto a música se afasta, dar a mão à pessoa que nos é querida e agradecer aos Deuses a Graça de estar VIVO...