Cidade Branca
Nestas tardes de Verão, em que os lisboetas acorrem em massa às praias, a cidade é deslumbrante.
Calma e em harmonia com aqueles que por cá ficaram.
Será o contrário, com a sensação de fazermos parte dela, como a pedra do seu património histórico, como a roupa à janela nos seus bairros populares, em que as pessoas se conhecem, em que as comadres tecem as mais verdadeiras conjecturas e as mais torpes insinuações, mas em que existe e se vive o conceito de vizinho.
Nesta tarde de Junho ainda há centenas de bandeiras de Portugal nas janelas, exprimindo a esperança ( hoje já só a sua nostalgia ) de voltarmos a ser os melhores, mesmo que no futebol. Esta eterna melancolia, de todo um povo que na sua memória mais íntima e profunda traz o tempo da Viagem.
Como podia ser diferente, quando nos impregnámos deste mar salgado que nos molda a alma e o horizonte ?
Cidade Branca, chamou-lhe Alain Tanner, graças a esta Luz intensa que a ilumina e que ela reflecte num abraço de boas vindas a quem dela se abeira, vindo do Sul, dos sítios onde se vive face ao Sol.
Por razões diferentes, pela côr do seu casario, também assim é designada Argel, nesse mesmo Sul.
Mediterrâneo, espaço de cultura, de comércio, de gastronomia, de barcos e amarras, de portos e gaivotas, que deveria e poderia ser um espaço de fraternidade; que há de mais emocionante do que admirar um templo romano nas areias do deserto magrebino ou a omnipresença árabe em Granada ?
Em Argel, ao pé do mar...assim acabava um simples poema de amor que alguém há-de voltar a ler um dia.
No Sul, disse o Buñuel, aprende-se o prazer da Sombra.
Did you feel the shadow of the Earth ?
Cidade branca...a volúpia de um cigarro à luz de uma vela, madrugada de um fado a cantar, ainda.
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