A rola ribatejana
Numa meia tarde deste Verão a nespereira lá do quintal ensinou-me como é mais fresca e apaziguadora a sombra de uma árvore, se comparada com uma tenda de derivado de petróleo ou mesmo da nossa boa e velha telha.
A brisa corre mais junto à pele, as folhas são uma companhia de cada instante no seu murmurar sobre o estado do Mundo, visto por este fragmento do reino botânico.
Bem doente, o Mundo, com o aquecimento global a desfolhar as árvores umas boas semanas antes do calmo e doce Outono desesperando assim a minha porteira, que todos os dias logo pela manhã varre milhares de folhas para o sacão do lixo e umas horas mais tarde volta à árdua tarefa de manter limpa a saída do prédio, não vá uma incauta dama escorregar no tecido vegetal estendido a seus pés...
Nessa calmaria do campo ribatejano dei por mim a ouvir o canto da rola, ali bem perto de mim; não mais de meio metro me separava da lindona pousada num galho da nespereira, comigo sentado na cadeira de verga que para ali pus na mira de me instalar mais vezes neste recanto aberto, mas secreto, meu.
Este foi o momento mais íntimo e sereno que eu recordo deste Verão, em que se persiste viajar e fazer coisas, turismo, sem tempo para sentir e deixar correr o tempo, apenas, na companhia do canto da rola.