A RTP 2 passou uma destas noites um filme-documentário muito bom, o "pesadelo de Darwin".
Triste, humano, retrata com rigor e seriedade, sem sensacionalismo e não buscando na miséria dos outros a receita para o vender.
Tema: África, o continente que terá gerado o Homem.
Está lá a pilhagem dos recursos (neste caso alimentares, a perca do Nilo do lago Vitória), o subdesenvolvimento, a prostituição das viúvas, a SIDA, a alta corrupção, o contrabando de armamento para fornecer aos diversos e numerosos senhores da guerra e milícias um pouco por (quase) toda a África, o tráfego aéreo que leva desde " equipamentos pesados, parecidos com tanques" ( frase de um piloto ucraniano, que "faz" Angola, o Congo, o Uganda, a Tanzânia, o Afeganistão ) a munições e traz para a Europa 55 toneladas de filetes de perca em cada vôo. Percas que foram introduzidas no lago há uns 40 anos, predador enorme que fez desaparecer outros peixes de que se alimentavam os pescadores e as populações. A monocultura, mais uma vez, que rentabiliza os investimentos e acaba com os equilíbrios naturais.
As tripulações ucranianas em Mwenda, pequena localidade da Tanzânia à beira do lago, com uma pista guardada por um militar e onde, quando as comunicações falham, a luz encarnada de um holofote proíbe os aviões de aterrar, a luz amarela os manda esperar, a luz verde autoriza que se façam à pista.
Aviões de todo o tipo, desde os Illyuchine de grandes dimensões e enorme capacidade de carga, a aviões médios que voam para as minas, pequenos jactos privados onde se fazem transportar os poderosos.
Milhares de milhões de dólares, "business as usual".
Há uns 7 anos, num bar de um hotel em Luanda, ouvi um americano caracterizar os africanos como pessoas que transportam consigo uma certa "tristeza tropical".
Horror de cada dia, em Mwenda !