domingo, março 23, 2008

PÁSCOA

Ao fim destes anos todos, da Páscoa consigo sentir a Paixão de um Homem que quis dar ao Homem a sua dignidade de Ser único, logo aberto ao Outro.

Lamento, mas serei demasiado carente de Fé para poder entender a perspectiva divina destes dias.

P.S. Como curiosidade, o critério para datar o Domingo de Páscoa envolve os ciclos solar e lunar: é sempre o primeiro Domingo depois da primeira Lua Cheia seguinte ao Equinócio da Primavera. Bem mais astral, portanto.

terça-feira, março 18, 2008

CÂNTICO NEGRO

Amanhã é o Dia do Pai !

O que faz um Pai ?
E o que deve fazer ?
Amar ? Proteger ? Apoiar ? Ensinar ?Admirar ? Assobiar para o lado ? Aprender ? Acompanhar ? Estar presente ? Dar o exemplo ? Que exemplo ? Mostrar a estrêla ? E o Sol ?Proibir ? Esperar ? Confiar ? Um pouco de tudo isto ? Respeitar ? Sugerir a estrada, tendo a honestidade de dizer: por ali, mas posso estar enganado ! ?

Li o Cântico Negro, do Régio, há uns bons 45 anos.
Claro que o seu eco nunca mais me abandonou...

Para os meus filhos, com amor,

Que todos e cada um percorram o seu caminho, com a força da Vida, que vence sempre !


Cântico negro

JOSÉ RÉGIO

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!